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Será um Vírus ou uma Bactéria?

Quando os médicos não sabem o que a criança tem dizem que é uma virose!” Esta frase é escutada em muitos serviços de urgência de pediatria, em muitos hospitais e escrita vezes sem conta em muitos blogues na internet. Haverá alguma verdade nesta afirmação? Porquê esta desconfiança dos pais e mães em relação às viroses? Neste texto vamos perceber porquê.

Vírus e bactérias: é tudo o mesmo?

O corpo de qualquer criança pode ser atacado por infeções diversas. Desde que nasce, a criança está sujeita a ser invadida por vários organismos que podem ultrapassar as suas barreiras de defesa e provocar as mais variadas doenças. Muitas são inocentes como um resfriado, outras são bem mais graves, como uma pneumonia ou uma meningite.

E que organismos são estes? Na grande maioria dos casos são bactérias ou vírus. Estes organismos têm dimensões minúsculas e existem por todo o lado. No ar que respiramos, na superfície dos objetos e principalmente nas mãos de todos nós através dos quais passam de pessoa em pessoa. A sua única função é multiplicarem-se. Para isso, quando conseguem entrar num novo ser humano, como o do seu filho ou filha, começam a dividir-se e o seu número aumenta a cada minuto que passa. Em três tempos, espalham-se por todo o corpo e estão prontos para passar para outra criança. A sua vida é esta: invadir e multiplicar-se. Mas ao fazer isso provocam doenças à medida que passam de criança em criança.

Existem milhares de vírus e bactérias diferentes capazes de provocar doenças. Mas afinal, qual é a diferença entre eles? Por que são utilizadas estas duas palavras para atribuir a causa da infeção de qualquer criança?

Vamos por partes. Em primeiro lugar vírus e bactérias são organismos diferentes. Os especialistas que estudam as infeções conseguem distinguir uns de outros pela sua aparência quando observados em laboratório. Por outro lado, a sua forma de viver e de se multiplicar é também muito diferente. Mas a principal divergência, aquela que mais nos interessa para o nosso dia-a-dia no combate a estas infeções, é que para as bactérias temos uma arma muito eficaz de combate, os antibióticos, enquanto que para os vírus não. De facto, os vírus não são sensíveis aos antibióticos pelo que nas infeções de origem viral, estes medicamentos não ajudam. Esta diferença é fundamental, como todos percebem.

Que tipo de doenças são provocadas pelas bactérias e vírus?

Os vírus e as bactérias podem provocar todo o tipo de doenças. Na prática qualquer órgão pode ser atacado por estes organismos. As infeções de garganta, de ouvidos, dos pulmões, dos intestinos, dos rins, da pele e mesmo do cérebro podem ser provocadas por ambos.

Mas há dois dados muito importantes que os pais devem saber em relação a estas infeções.

Primeiro dado: a maioria das doenças em crianças é provocada por vírus. Isto é verdade para quase todas as doenças da pele, nomeadamente para as doenças que provocam manchas no corpo tais como a varicela, sarampo, papeira ou rubéola. De facto, todas estas são provocadas unicamente por vírus.

Outro exemplo são as infeções do aparelho respiratório como as amigdalites, laringites, bronquiolites ou pneumonias. Também aqui a maioria delas são provocadas por vírus. Nas doenças intestinais, como as gastrites ou diarreias, também os vírus são os principais culpados. Mesmo as infeções mais temidas, como as meningites, são, na grande maioria, provocadas por vírus.

Segundo dado: um médico consegue na maioria dos casos saber se uma doença é provocada por um vírus ou uma bactéria, mas mesmo sabendo que é um vírus, é muito difícil saber qual o vírus que é culpado. Ou seja, na maioria das vezes o pediatra não tem dúvidas de que a doença é provocada por um vírus mas não consegue saber qual o vírus em concreto que a está a provocar. Isto acontece porque existem centenas de vírus que são capazes de provocar as mesmas doenças. Uma pneumonia, por exemplo, pode ser provocada por mais de vinte vírus diferentes. No entanto, esta distinção não tem grande consequência pois a atitude e o tratamento são iguais, independentemente de se tratar de um vírus ou de outro. 

 

Como é que se tratam as infeções?

Muitas vezes, aquilo que preocupa o Pediatra é perceber, numa determinada doença, se as queixas são provocadas por um vírus ou se podem ser devidas a uma infeção provocada por bactérias. Na pele, por exemplo, algumas manchas são típicas de infeções virais enquanto outras são características de infeções por bactérias. No aparelho respiratório, algumas características da auscultação levam a suspeitar de vírus, enquanto que outros sons são muito sugestivos de ser uma bactéria a culpada. A importância é enorme, pois para as infeções por bactérias dispomos dos antibióticos como arma eficaz.

Ao contrário das bactérias, os vírus não se conseguem tratar com antibióticos. Mesmo os antibióticos mais fortes nada conseguem fazer quando uma doença é provocada por um vírus. Muitos pais têm alguma dificuldade em aceitar este facto. Estão convencidos que, em pleno século XXI, não há impossíveis na Medicina. Mas a verdade é que ainda existem fronteiras a alcançar. Há muitos pais que pensam que uma doença apenas precisa de ser diagnosticada para poder ser tratada. Mas muitas vezes não é assim. Quando a doença é viral não pode ser tratada com antibióticos. Nas crianças, e nas doenças mais comuns, tudo o que há a fazer é tentar proporcionar o maior conforto àquela criança. Baixando a febre, aliviando os vómitos, diminuindo a diarreia ou acalmando as dores. Para além disso, é esperar que o próprio organismo da criança resolva o problema e combata o vírus, com as suas defesas.

E em relação à célebre frase das viroses?

Podemos agora perceber que em muitas doenças é possível saber sem dúvida de que a sua causa é um vírus ou uma bactéria. Mas em outros casos a principal preocupação do médico é afastar a hipótese de se tratar de uma bactéria. Quando isso é conseguido significa que a doença que aquela criança tem é provocada por um vírus (uma “virose”) e daí a frase usada por tantos médicos: “esteja descansada, é só uma virose”!